Igualdade
Se prestarmos atenção, veremos que as
liberdades democráticas e a igualdade jurídica só existem pela metade, ou
somente para alguns, e por isso são uma farsa.
O direito de greve existe, mas
centenas de greves são declaradas ilegais pela justiça todo ano. O direito de
manifestação existe, mas os manifestantes são imediatamente reprimidos pela polícia
quando resolvem fechar uma rua para protestar. O direito de se organizar em
partidos existe, mas os partidos que não tem representação parlamentar não são
chamados aos debates, como se simplesmente não existissem. Todos os partidos
têm acesso à TV, mas os partidos pequenos têm 30 segundos, enquanto a coligação
que elegeu Dilma tinha mais de 10 minutos.
Todos são iguais perante a lei, mas a
policia não entra atirando em condomínios e quando o banqueiro Daniel Dantas
foi preso, houve um escândalo nacional porque o coitadinho foi algemado. Os
filhos dos ricos prestam o ENEM como todo mundo, mas antes disso estudam nas
melhores escolas particulares e fazem os melhores cursinhos. Todos pagam a
mesma alíquota de ICMS, mas uma família pobre gasta mais da metade de sua renda
no supermercado, enquanto para os ricos o item comida não representa quase nada
no orçamento doméstico. Todos têm o direito de ir e vir, mas quem tem dinheiro
vai mais longe.
Podemos encontrar milhares de
exemplos. E em todos eles, veremos que as liberdades garantidas nas uma leis,
são limitadas ou anuladas em outras.
Apesar de toda falsidade, a democracia
tem se demonstrado bastante eficiente e difícil de ser
desmascarada. Em que reside, então, a força do regime democrático? Seu poder de
iludir? Com essa pergunta chegamos ao coração do sistema, à verdadeira câmara
de combustão da democracia, que fornece energia a todas as outras partes do
mecanismo: o voto.
A principal característica da
democracia é a eleição dos governantes através do voto universal. Voto
universal significa que todos têm direito a votar, sem distinção de raça, sexo
ou classe social.
Dito assim, parece pouco importante,
mas não é. O voto universal foi uma grande conquista, também conquistado com
muita luta. No Brasil, até o final do século 19, só podiam votar aqueles que
fossem ao mesmo tempo: homens, brancos e proprietários. Mais tarde, o direito
ao voto foi estendido aos pobres, mulheres e analfabetos. No Brasil República,
os negros nunca foram oficialmente proibidos de votar. No entanto, como a maioria
dos es escravos era analfabeta, a população negra acabava de fato excluída das
eleições. Com relação às mulheres, se considerava que elas já estavam
representadas por seus maridos e por isso não precisavam votar.
Mas como o voto se tornou tão
importante e por que dizemos que ele é a fonte de todas as ilusões da
democracia? Pelo simples fato de que ele “iguala” coisas que são completamente
diferentes e não podem ser igualadas. Na vida real, patrões e empregados têm
interesses opostos. Mas no dia da eleição o voto do trabalhador vale tanto
quanto o voto do empresário. Esse fato é martelado na cabeça do povo, como se
fosse à prova definitiva de que todos são iguais, de que a sociedade é
realmente livre e igualitária.
Não é por acaso que a TV, o governo e
os jornais se refiram às eleições como “a festa da democracia”. De fato, esse é
momento mais importante do regime democrático. Não importa que durante os
próximos 4 anos os trabalhadores terão que enfrentar o governo como seu
inimigo. Não importa que mentiu durante a campanha. Não importa que a TV só
tenha mostrado dois ou três candidatos. O que importa é que todos puderam
votar! Se votaram errado paciência...
Assim, ao longo dos quatro anos que
separam uma eleição da outra, o eleitor é programado para chegar diante da
maquininha e fazer exatamente aquilo que se espera dele: votar. “Não desperdice
seu voto!”, “Vote!”, diz a campanha do TRE.
Mas se os trabalhadores são a maioria
e os patrões é a minoria, por que o patrão sempre ganha? Por que os
trabalhadores não usam o voto universal a seu favor? É nesse momento que entra
em cena o outro ator do “espetáculo da democracia”: o poder econômico.
As doações feitas por empresários,
combinadas com grandes coligações de até 10 partidos, para ocupar tempo de TV,
criam verdadeiros supercandidatos , jatinhos particulares, marqueteiros,
milhares de cabos eleitorais e muitas outras armas. Os candidatos operários ou
de esquerda simplesmente desaparecem, esmagados pelo peso de milhões de reais.
Nessas condições, não é de se admirar que os trabalhadores acabem votando em
seus próprios carrascos.
Como se vê na realidade a democracia
é um grande farsa, mas muito bem aplicada.
ARNOBIOFIUZA